Tudo indica que o nome «Ribeira» desta freguesia de Loivos da Ribeira, está ligado ao de D. Martim Pais «de Ribeira», irmão de D. Maria Pais de Ribeira «a Ribeirinha», família com muitos bens em Ribeira de Pena, pois foi terra onde dominaram antepassados seus.
D. Martim Pais de Ribeira «Martim Pelagii Ribeira», casado com D. Maria Pais «de Valadares» (filha de D. Elvira Vasques e neta de D. Vasco Fernandes, tenente de Aguiar de Pena), foi rico-homem do século XIII, está sepultado num sarcófago existente na Sé do Porto, e era filho de D. Paio Moniz, da honra de Berredo, em Póvoa de Lanhoso (irmão do célebre Martim Moniz, que morreu no cerco de Lisboa) e de D. Urraca Nunes (filha de D. Nuno Mendes «de Caria»),
Por via paterna, D. Martim Pais descendia dos «de Cabreira», era bisneto do conde D. Osório e neto de D. Múnio Osores, e por via materna dos Bragançãos, pois seu avô D. Nuno Mendes «de Caria», era irmão do célebre D. Fernão Mendes «de Bragança», cunhado do nosso primeiro rei.
D. Martim Pais «de Ribeira» era também conhecido por D. Martim Pais «de Lanhoso», por ser natural desta terra de «contra riba de Cádavo e Berredo», a qual chegou a governar, conforme se verifica num documento de 1229 sobre a resolução do povoamento de Idanha-a-Velha e noutro de 1235 referente à doação de Aljustrel, à Ordem de Santiago, em cuja conquista deverá ter participado.
Sua irmã, D. Maria Pais de Ribeira «a Ribeirinha», manteve relações amorosas com o rei D, Sancho I, de quem teve seis filhos, casou mais tarde com D. João Fernandes «de Lima» e em testamento régio herdou muitos bens. Depois de ter regressado de Coimbra, com seu irmão D. Martim Pais, onde ambos assistiram às exéquias e funeral de D. Sancho I, saiu-lhes ao caminho um tal Egas Lourenço, que a raptou e levou para fora do reino, deixando D. Martim Pais «de Ribeira» desarmado e gravemente ferido.
No livro de doações do Mosteiro de Salzedas, em Tarouca, encontram-se vários documentos referentes a doações do lugar e Honra de Arufe desta freguesia e também de outros lugares de Loivos da Ribeira, ao referido mosteiro, entre os quais um do ano 1229, de D. Martim Pais, respeitante à doação de dois casais em Arufe e Loivos.
No ano de 1258, a igreja de Santa Maria de Loivos, assim designada na altura, juntamente com a igreja de Santa Maria de Frende, eram pos¬suidoras de uma herdade foreira em Barqueiros, Mesão Frio, já desde o reinado de D. Sancho I, por doação que lhes fizeram uns homens de Barqueiros pela sua alma.
Conforme consta nas inquirições régias de 1258, nesse ano os pa¬droeiros da igreja de Loivos da Ribeira eram: Gomes Fernandes, D. Lou- renço Martins (filho de D. Martim Pais «de Ribeira»), Martim Rodrigues e os «de Barvedo» que na realidade são os «de Berredo», em Lanhoso, constando ainda que Martim Pais, cavaleiro, deixou uma leira à igreja pela sua alma, na época em que reinava D. Sancho II.
No ano de 1285, D. Gonçalo Martins, dito «de Berredo» e D. Maria Raimunda sua mulher, doaram ao mosteiro de Salzedas, um casal em Loivos da Ribeira.
Em 1298, D. Estevão Pires e D. Constança Lourenço sua mulher (também filha de D. Lourenço Martins), doaram tudo que possuíam em Arufe, pelas suas almas, e o mosteiro deu-lhes 45 libras.
No ano 1301, D. Maria Lourenço, filha de D. Lourenço Martins, cavaleiro de Arufe, fez doação de tudo que tinha em Arufe, bem como no termo de Baião, mas o mosteiro apenas tomou posse do que deu esta devota, no ano de 1306.
Em 1304, o escudeiro D. Afonso Anes, dito «de Tabuado» (Marco de Canaveses) e D. Beringueira ou Berengária Lourenço sua mulher, doaram como familiares do mosteiro de Salzedas, tudo que possuíam em Arufe, para serem participantes em todas as missas e orações que se dissessem no mosteiro e em toda a Ordem, O citado mosteiro deu-lhes em suas vidas, dois casais, um em Viariz (Baião), outro em Vila Marim (Mesão Frio) e ainda quarenta libras.
No ano de 1305, a já citada D. Constança Lourenço, mulher do cavaleiro D. Estevão Pires, fez doação de tudo que tinha em Arufe, por sua alma e de seu marido, através do prior Frei Geraldo Anes.
Em 1306, Martim «Espinho», de Paredes (de Viadores) e sua mulher Clara Vicente (Espinhas eram fidalgos cavaleiros descendentes de D. Egas Mendes por alcunha «Espinha» casado com Emisu Trastamires, que tinham posses em Paredes de Viadores, Marco de Canaveses), doaram tudo que tinham em Arufe por suas almas e o mosteiro deu-lhes cinquenta libras. No mesmo ano, D. Pedro Anes «de Penalva» e D. Maria Lourenço sua mulher (filha de D. Lourenço Martins), deram tudo que possuíam em Arufe por troca com o que o mosteiro tinha em Paiva e Miomães (Resende).
No ano de 1312, quando D. Estêvão Pires era abade do mosteiro de Salzedas, D. Nuno Rodrigues, escudeiro, fez doação do que tinha em
Arufe da parte de seu pai D. Rui Lourenço, dando-lhe o mosteiro para que possuísse durante a sua vida o que tinha na cidade da Guarda.
Em 1315 D. Beringueira ou Berengária Lourenço, fez doação do Casal do Outeiro, em Arufe, para que fosse sepultada no referido mosteiro.
Como se pode verificar, nos fins do século XIII e princípios do século XIV, o mosteiro de Salzedas, em Tarouca, tinha muitas posses nesta freguesia de Loivos da Ribeira, sobretudo em Arufe, através de doações feitas pelos seus devotos.
A fundadora do dito mosteiro de Salzedas e no qual está sepultada à entrada, foi D. Teresa Afonso, mulher de D. Egas Moniz, chamado «o Aio».
O nome do lugar de Arufe, talvez seja proveniente de Arulfus, nome de homem, germânico, usado nos princípios do século XI, ou ainda de Abdelruf, nome árabe.
Num recenseamento efectuado no ano 1530, a freguesia de Loivos da Ribeira tinha na totalidade 27 fogos, 6 dos quais no lugar de Arufe.
No século XVI, a igreja de Loivos da Ribeira era taxada em 40 libras e pagava pela visita do bispo ou seu representante 186 reis, ou seja, um terço do que pagava a de S. Bartolomeu de Campeio, além de 38 reis de censo.
O padroado era dos Távoras, que mandaram esculpir o seu brasão sobre o arco da capela do Senhor das Chagas e que depois foi picado no tempo do Marquês de Pombal, quando do atentado contra o rei D. José, mantendo-se ainda visível o corpo da pedra de armas totalmente liso.
O citado arco, que é fechado com o apagado brasão, tem esculpido o ano de 1585 e uma inscrição dizendo que o padre Leme mandou fazer a capela do Senhor das Chagas no referido ano, capela essa que depois ficou incorporada no interior da actual igreja paroquial.
Henrique Dias Leme de Azevedo, foi senhor da casa do Paço, em Loivos da Ribeira e o instituidor do morgadio do Senhor das Chagas.
O morgado do Senhor das Chagas apresentava na igreja o abade que tinha duzentos mil reis anuais de rendimento
É possível que a igreja pagasse renda ao referido morgado bem como ao comendador da comenda de Vila Nova.
Nas Memórias Paroquiais, consta que no ano 1755, apareceu a imagem de Nossa Senhora num penedo situado junto do caminho que seguia desta freguesia para o concelho de Resende e junto do lugar da Bajonca, à qual os devotos chamaram de Nossa Senhora da Lapinha.
Consta também que, no monte que fica contíguo ao penedo, brotou uma pouca de água, tornando-se um local de romagem de muitos devotos da Senhora e à qual foram atribuídos muitos milagres, não havendo dinheiro na altura para construir uma capela devido à freguesia ser pobre.
Acontece que a pequena capela de Nossa Senhora da Lapinha acabou por ser construída e ainda existe no local, onde a Senhora tem festa no dia 15 de Agosto.
No dia 12 de Abril de 1758, o então abade João Aguiar e Torres, refere que a freguesia tinha na totalidade 168 habitantes, dos quais 19 eram menores, e existiam 63 fogos distribuídos pelos seguintes lugares: Arufe 16, Bajonca 4, Souto 1, Carril 1, Saibro 6, Costa de Cima 8, Casal 1, Costa de Baixo 6, Bouça de Aires 2, Monte 3, Ramadinhas 3, Aldeia 2, Quintã 3 , Ribeiro 5 e Eidinhos 2.
A população era servida pelo correio de Mesão Frio, donde distava meia légua, sendo a correspondência recebida às segundas-feiras e despachada às quintas-feiras.
Na freguesia existiam castanheiros e produzia-se algum trigo e centeio, mas o que os moradores tinham com mais abundância era vinho, o qual vendiam para comprarem o sustento que não chegava para todo o ano. Faziam criação de ovelhas e nos montes havia alguns coelhos e perdizes.
No rio Teixeira, que passa na freguesia e desagua no rio Douro, no lugar de Riboura, criavam-se escalos, bogas e algumas trutas, mas com pouca abundância, pescando-se sobretudo no Verão.
No seu trajecto pela freguesia, o rio tinha quatro levadas e quatro moinhos de cereais, existindo já no lugar de Quintã, uma ponte de cantaria sobre o mesmo rio e que dava acesso à estrada que seguia para Mesão Frio.
Nessa época, o morgado do Senhor das Chagas era o padroeiro «insolidum» da igreja e apresentava o abade que tinha 230 mil reis anuais de rendimento com todos os dízimos e passal, em contrato feito judicialmente, mas o rendeiro queixava-se ao padre e a muitas pessoas da freguesia que, com o contrato efectuado, perdia mais de 80 mil reis.
No seu interior, a igreja paroquial era composta por três altares, mais a capela do Senhor das Chagas, que estava incorporada. Na capela mor, onde outrora eram enterrados os administradores falecidos, situava-se o altar mor com as imagens da padroeira Santa Maria Madalena e do Menino Jesus, enquanto que os colaterais, o do lado norte com a imagem de Nossa Senhora do Rosário e o do lado sul com a imagem de S. Sebastião.
Por seu lado, a capela incorporada no interior da igreja, tinha um altar com o Senhor das Chagas, onde o administrador do morgado do Senhor das Chagas era obrigado a mandar celebrar missa duas vezes por semana.
Nesse ano de 1758, o administrador do morgado do Senhor das Chagas, era Vicente de Távora e Noronha Leme Sernache.
O administrador do referido morgado também era obrigado a mandar celebrar uma missa todos os meses no altar de Nossa Senhora da Saúde, existente na ermida da quinta do Paço.
No dia da padroeira Santa Maria Madalena, em 22 de Julho, fazia-se nessa altura e nesta freguesia uma feira franca.
' No ano de 1855 a côngrua era de cem mil reis, conforme consta no mapa geral estatístico das côngruas arbitradas aos párocos e coadjutores das freguesias.
Esta freguesia teve em tempos uma indústria de telha de barro grosso e outrora foi terra de muitos almocreves que conduziam os cereais para os mercados de Mesão Frio.
O primeiro troço de estrada que liga o centro da freguesia à então estrada nacional 6, hoje 108, com cerca de 1 Km de extensão, foi inaugurado em 19 de Julho de 1933.
Actualmente, a festa religiosa da padroeira Santa Maria Madalena de Loivos da Ribeira, ainda se realiza no dia 22 de Julho, na igreja local, cujo tecto tem pinturas muito antigas.
Em 21 de Janeiro de 1892, nasceu em Loivos da Ribeira o engenheiro civil de obras públicas e de minas, Álvaro Vieira Soares David, que dirigiu a construção de diversas linhas férreas e edifícios nacionais. Desempenhou o cargo de engenheiro dos Caminhos de Ferro (CP) do Minho e Douro, sendo no ano de 1942, o director dos Edifícios Nacionais do Norte.
Foi também nesta freguesia que, em 1925, nasceu a freira Maria Alice Teixeira da Silva que aos 14 anos de idade foi viver para o Brasil, tornando-se docente, assistente social, catequista e fundadora de diversas instituições de solidariedade, naturalizando-se brasileira aos 36 anos de idade. Em 24 de Abril de 1991, a «irmã» Maria Alice, foi homenageada pela Câmara Municipal de S. Salvador com a «Comenda Maria Quitéria» pelo seu auxílio às camadas mais carenciadas da população. A religiosa foi ainda distinguida pelo contributo prestado ao sector da Educação, após a fundação do Instituto Social da Baía, o maior colégio daquele Estado brasileiro.
Existe nesta freguesia o Grupo Desportivo Loivos da Ribeira, fundado na década de 80, possuindo um campo de jogos, assim como a Associação Cultural, Social e Recreativa Loivos da Ribeira (ACUL), fundada em 2008.
Compõe-se a freguesia de Loivos da Ribeira com os lugares de Aldeia, Arufe, Bajonca, Boavista, Bouça de Aires, Canas, Carril, Carvalho Ventoso, Casal, Costa, Cruz, Eidinhos, Igreja, Jardosa, Lameira, Loivos, Mato, Monte, Oliveiras, Paço, Pena Curva, Quinta, Ribeiro, Sobreira, Soutinho, Souto, Ubeira, Valado e Vale Covo.
Texto de:
Dr. José Alberto Gançalves. (2009). BAIÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS (1ª ed.). Baião: Uniarte Gráfica
Lenda do Penedo da Boa Mulher
Segundo a história, numa pedra de granito com cerca de 12mts de altura e um
diâmetro de 50 mt2, existe na parte mais baixa do seu topo, a uns 10 mts de altura,
uma pequena ranhura a meio do mesmo com, aproximadamente 30 cm de altura e 3 /
4 cm de largura, a que ainda hoje, várias pessoas testemunham ter visto uma Bela
Senhora a pentear os seus longos e brilhantes cabelos pretos. Sempre que a mesma se
sentia observada, a abertura do penedo aumentava de modo a que facilitasse o
refúgio da Bela Senhora no seu interior. Atualmente muitas pessoas afirmam ainda
terem usufruído de tal visão, enquanto outras lamentam nunca o terem conseguido.