Loivos da Ribeira

Tudo indica que o nome «Ribeira» desta freguesia de Loivos da Ribeira, está ligado ao de D. Martim Pais «de Ribeira», irmão de D. Maria Pais de Ribeira «a Ribeirinha», família com muitos bens em Ribeira de Pena, pois foi terra onde dominaram antepassados seus.

D. Martim Pais de Ribeira «Martim Pelagii Ribeira», casado com D. Maria Pais «de Valadares» (filha de D. Elvira Vasques e neta de D. Vasco Fernandes, tenente de Aguiar de Pena), foi rico-homem do século XIII, está sepultado num sarcófago existente na Sé do Porto, e era filho de D. Paio Moniz, da honra de Berredo, em Póvoa de Lanhoso (irmão do célebre Martim Moniz, que morreu no cerco de Lisboa) e de D. Urraca Nunes (filha de D. Nuno Mendes «de Caria»),

Por via paterna, D. Martim Pais descendia dos «de Cabreira», era bisneto do conde D. Osório e neto de D. Múnio Osores, e por via materna dos Bragançãos, pois seu avô D. Nuno Mendes «de Caria», era irmão do célebre D. Fernão Mendes «de Bragança», cunhado do nosso primeiro rei.

D. Martim Pais «de Ribeira» era também conhecido por D. Martim Pais «de Lanhoso», por ser natural desta terra de «contra riba de Cádavo e Berredo», a qual chegou a governar, conforme se verifica num documento de 1229 sobre a resolução do povoamento de Idanha-a-Velha e noutro de 1235 referente à doação de Aljustrel, à Ordem de Santiago, em cuja conquista deverá ter participado.

Sua irmã, D. Maria Pais de Ribeira «a Ribeirinha», manteve relações amorosas com o rei D, Sancho I, de quem teve seis filhos, casou mais tarde com D. João Fernandes «de Lima» e em testamento régio herdou muitos bens. Depois de ter regressado de Coimbra, com seu irmão D. Martim Pais, onde ambos assistiram às exéquias e funeral de D. Sancho I, saiu-lhes ao caminho um tal Egas Lourenço, que a raptou e levou para fora do reino, deixando D. Martim Pais «de Ribeira» desarmado e gravemente ferido.

No livro de doações do Mosteiro de Salzedas, em Tarouca, encontram-se vários documentos referentes a doações do lugar e Honra de Arufe desta freguesia e também de outros lugares de Loivos da Ribeira, ao referido mosteiro, entre os quais um do ano 1229, de D. Martim Pais, respeitante à doação de dois casais em Arufe e Loivos.

No ano de 1258, a igreja de Santa Maria de Loivos, assim designada na altura, juntamente com a igreja de Santa Maria de Frende, eram pos¬suidoras de uma herdade foreira em Barqueiros, Mesão Frio, já desde o reinado de D. Sancho I, por doação que lhes fizeram uns homens de Barqueiros pela sua alma.

Conforme consta nas inquirições régias de 1258, nesse ano os pa¬droeiros da igreja de Loivos da Ribeira eram: Gomes Fernandes, D. Lou- renço Martins (filho de D. Martim Pais «de Ribeira»), Martim Rodrigues e os «de Barvedo» que na realidade são os «de Berredo», em Lanhoso, constando ainda que Martim Pais, cavaleiro, deixou uma leira à igreja pela sua alma, na época em que reinava D. Sancho II.

No ano de 1285, D. Gonçalo Martins, dito «de Berredo» e D. Maria Raimunda sua mulher, doaram ao mosteiro de Salzedas, um casal em Loivos da Ribeira.

Em 1298, D. Estevão Pires e D. Constança Lourenço sua mulher (também filha de D. Lourenço Martins), doaram tudo que possuíam em Arufe, pelas suas almas, e o mosteiro deu-lhes 45 libras.

No ano 1301, D. Maria Lourenço, filha de D. Lourenço Martins, cavaleiro de Arufe, fez doação de tudo que tinha em Arufe, bem como no termo de Baião, mas o mosteiro apenas tomou posse do que deu esta devota, no ano de 1306.

Em 1304, o escudeiro D. Afonso Anes, dito «de Tabuado» (Marco de Canaveses) e D. Beringueira ou Berengária Lourenço sua mulher, doaram como familiares do mosteiro de Salzedas, tudo que possuíam em Arufe, para serem participantes em todas as missas e orações que se dissessem no mosteiro e em toda a Ordem, O citado mosteiro deu-lhes em suas vidas, dois casais, um em Viariz (Baião), outro em Vila Marim (Mesão Frio) e ainda quarenta libras.

No ano de 1305, a já citada D. Constança Lourenço, mulher do cavaleiro D. Estevão Pires, fez doação de tudo que tinha em Arufe, por sua alma e de seu marido, através do prior Frei Geraldo Anes.

Em 1306, Martim «Espinho», de Paredes (de Viadores) e sua mulher Clara Vicente (Espinhas eram fidalgos cavaleiros descendentes de D. Egas Mendes por alcunha «Espinha» casado com Emisu Trastamires, que tinham posses em Paredes de Viadores, Marco de Canaveses), doaram tudo que tinham em Arufe por suas almas e o mosteiro deu-lhes cinquenta libras. No mesmo ano, D. Pedro Anes «de Penalva» e D. Maria Lourenço sua mulher (filha de D. Lourenço Martins), deram tudo que possuíam em Arufe por troca com o que o mosteiro tinha em Paiva e Miomães (Resende).

No ano de 1312, quando D. Estêvão Pires era abade do mosteiro de Salzedas, D. Nuno Rodrigues, escudeiro, fez doação do que tinha em

Arufe da parte de seu pai D. Rui Lourenço, dando-lhe o mosteiro para que possuísse durante a sua vida o que tinha na cidade da Guarda.

Em 1315 D. Beringueira ou Berengária Lourenço, fez doação do Casal do Outeiro, em Arufe, para que fosse sepultada no referido mosteiro.

Como se pode verificar, nos fins do século XIII e princípios do século XIV, o mosteiro de Salzedas, em Tarouca, tinha muitas posses nesta freguesia de Loivos da Ribeira, sobretudo em Arufe, através de doações feitas pelos seus devotos.

A fundadora do dito mosteiro de Salzedas e no qual está sepultada à entrada, foi D. Teresa Afonso, mulher de D. Egas Moniz, chamado «o Aio».

O nome do lugar de Arufe, talvez seja proveniente de Arulfus, nome de homem, germânico, usado nos princípios do século XI, ou ainda de Abdelruf, nome árabe.

Num recenseamento efectuado no ano 1530, a freguesia de Loivos da Ribeira tinha na totalidade 27 fogos, 6 dos quais no lugar de Arufe.

No século XVI, a igreja de Loivos da Ribeira era taxada em 40 libras e pagava pela visita do bispo ou seu representante 186 reis, ou seja, um terço do que pagava a de S. Bartolomeu de Campeio, além de 38 reis de censo.

O padroado era dos Távoras, que mandaram esculpir o seu brasão sobre o arco da capela do Senhor das Chagas e que depois foi picado no tempo do Marquês de Pombal, quando do atentado contra o rei D. José, mantendo-se ainda visível o corpo da pedra de armas totalmente liso.

O citado arco, que é fechado com o apagado brasão, tem esculpido o ano de 1585 e uma inscrição dizendo que o padre Leme mandou fazer a capela do Senhor das Chagas no referido ano, capela essa que depois ficou incorporada no interior da actual igreja paroquial.

Henrique Dias Leme de Azevedo, foi senhor da casa do Paço, em Loivos da Ribeira e o instituidor do morgadio do Senhor das Chagas.

O morgado do Senhor das Chagas apresentava na igreja o abade que tinha duzentos mil reis anuais de rendimento

É possível que a igreja pagasse renda ao referido morgado bem como ao comendador da comenda de Vila Nova.

Nas Memórias Paroquiais, consta que no ano 1755, apareceu a imagem de Nossa Senhora num penedo situado junto do caminho que seguia desta freguesia para o concelho de Resende e junto do lugar da Bajonca, à qual os devotos chamaram de Nossa Senhora da Lapinha.

Consta também que, no monte que fica contíguo ao penedo, brotou uma pouca de água, tornando-se um local de romagem de muitos devotos da Senhora e à qual foram atribuídos muitos milagres, não havendo dinheiro na altura para construir uma capela devido à freguesia ser pobre.

Acontece que a pequena capela de Nossa Senhora da Lapinha acabou por ser construída e ainda existe no local, onde a Senhora tem festa no dia 15 de Agosto.

No dia 12 de Abril de 1758, o então abade João Aguiar e Torres, refere que a freguesia tinha na totalidade 168 habitantes, dos quais 19 eram menores, e existiam 63 fogos distribuídos pelos seguintes lugares: Arufe 16, Bajonca 4, Souto 1, Carril 1, Saibro 6, Costa de Cima 8, Casal 1, Costa de Baixo 6, Bouça de Aires 2, Monte 3, Ramadinhas 3, Aldeia 2, Quintã 3 , Ribeiro 5 e Eidinhos 2.

A população era servida pelo correio de Mesão Frio, donde distava meia légua, sendo a correspondência recebida às segundas-feiras e despachada às quintas-feiras.

Na freguesia existiam castanheiros e produzia-se algum trigo e centeio, mas o que os moradores tinham com mais abundância era vinho, o qual vendiam para comprarem o sustento que não chegava para todo o ano. Faziam criação de ovelhas e nos montes havia alguns coelhos e perdizes.

No rio Teixeira, que passa na freguesia e desagua no rio Douro, no lugar de Riboura, criavam-se escalos, bogas e algumas trutas, mas com pouca abundância, pescando-se sobretudo no Verão.

No seu trajecto pela freguesia, o rio tinha quatro levadas e quatro moinhos de cereais, existindo já no lugar de Quintã, uma ponte de cantaria sobre o mesmo rio e que dava acesso à estrada que seguia para Mesão Frio.

Nessa época, o morgado do Senhor das Chagas era o padroeiro «insolidum» da igreja e apresentava o abade que tinha 230 mil reis anuais de rendimento com todos os dízimos e passal, em contrato feito judicialmente, mas o rendeiro queixava-se ao padre e a muitas pessoas da freguesia que, com o contrato efectuado, perdia mais de 80 mil reis.

No seu interior, a igreja paroquial era composta por três altares, mais a capela do Senhor das Chagas, que estava incorporada. Na capela mor, onde outrora eram enterrados os administradores falecidos, situava-se o altar mor com as imagens da padroeira Santa Maria Madalena e do Menino Jesus, enquanto que os colaterais, o do lado norte com a imagem de Nossa Senhora do Rosário e o do lado sul com a imagem de S. Sebastião.

Por seu lado, a capela incorporada no interior da igreja, tinha um altar com o Senhor das Chagas, onde o administrador do morgado do Senhor das Chagas era obrigado a mandar celebrar missa duas vezes por semana.

Nesse ano de 1758, o administrador do morgado do Senhor das Chagas, era Vicente de Távora e Noronha Leme Sernache.

O administrador do referido morgado também era obrigado a mandar celebrar uma missa todos os meses no altar de Nossa Senhora da Saúde, existente na ermida da quinta do Paço.

No dia da padroeira Santa Maria Madalena, em 22 de Julho, fazia-se nessa altura e nesta freguesia uma feira franca.

' No ano de 1855 a côngrua era de cem mil reis, conforme consta no mapa geral estatístico das côngruas arbitradas aos párocos e coadjutores das freguesias.

Esta freguesia teve em tempos uma indústria de telha de barro grosso e outrora foi terra de muitos almocreves que conduziam os cereais para os mercados de Mesão Frio.

O primeiro troço de estrada que liga o centro da freguesia à então estrada nacional 6, hoje 108, com cerca de 1 Km de extensão, foi inaugurado em 19 de Julho de 1933.

Actualmente, a festa religiosa da padroeira Santa Maria Madalena de Loivos da Ribeira, ainda se realiza no dia 22 de Julho, na igreja local, cujo tecto tem pinturas muito antigas.

Em 21 de Janeiro de 1892, nasceu em Loivos da Ribeira o engenheiro civil de obras públicas e de minas, Álvaro Vieira Soares David, que dirigiu a construção de diversas linhas férreas e edifícios nacionais. Desempenhou o cargo de engenheiro dos Caminhos de Ferro (CP) do Minho e Douro, sendo no ano de 1942, o director dos Edifícios Nacionais do Norte.

Foi também nesta freguesia que, em 1925, nasceu a freira Maria Alice Teixeira da Silva que aos 14 anos de idade foi viver para o Brasil, tornando-se docente, assistente social, catequista e fundadora de diversas instituições de solidariedade, naturalizando-se brasileira aos 36 anos de idade. Em 24 de Abril de 1991, a «irmã» Maria Alice, foi homenageada pela Câmara Municipal de S. Salvador com a «Comenda Maria Quitéria» pelo seu auxílio às camadas mais carenciadas da população. A religiosa foi ainda distinguida pelo contributo prestado ao sector da Educação, após a fundação do Instituto Social da Baía, o maior colégio daquele Estado brasileiro.

Existe nesta freguesia o Grupo Desportivo Loivos da Ribeira, fundado na década de 80, possuindo um campo de jogos, assim como a Associação Cultural, Social e Recreativa Loivos da Ribeira (ACUL), fundada em 2008.

Compõe-se a freguesia de Loivos da Ribeira com os lugares de Aldeia, Arufe, Bajonca, Boavista, Bouça de Aires, Canas, Carril, Carvalho Ventoso, Casal, Costa, Cruz, Eidinhos, Igreja, Jardosa, Lameira, Loivos, Mato, Monte, Oliveiras, Paço, Pena Curva, Quinta, Ribeiro, Sobreira, Soutinho, Souto, Ubeira, Valado e Vale Covo.


Texto de:

Dr. José Alberto Gançalves. (2009). BAIÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS (1ª ed.).  Baião:  Uniarte Gráfica




Lenda do Penedo da Boa Mulher


Segundo a história, numa pedra de granito com cerca de 12mts de altura e um

diâmetro de 50 mt2, existe na parte mais baixa do seu topo, a uns 10 mts de altura,

uma pequena ranhura a meio do mesmo com, aproximadamente 30 cm de altura e 3 /

4 cm de largura, a que ainda hoje, várias pessoas testemunham ter visto uma Bela

Senhora a pentear os seus longos e brilhantes cabelos pretos. Sempre que a mesma se

sentia observada, a abertura do penedo aumentava de modo a que facilitasse o

refúgio da Bela Senhora no seu interior. Atualmente muitas pessoas afirmam ainda

terem usufruído de tal visão, enquanto outras lamentam nunca o terem conseguido.

Tresouras

É bastante antiga esta freguesia de Tresouras, cujo orago é S. Miguel, sendo composta por 483 ha, que corresponde a 3.31% da área total do concelho.

O topónimo Tresouras, que outrora era Trazoris e Trazoys, deve derivar de Trezoy, nome godo ou moçárabe.

Em 1144 a igreja foi doada por D. Mem Moniz «de Ribadouro» e sua mulher D. Cristina Gonçalves aos homens de Espinho «.vobis homini- bus de Spinoit» aos quais também doaram as herdades que possuíam nesse mesmo lugar. Segundo as inquirições régias de 1258, o então «comendador» da igreja de Tresouras padre Domingos Martins disse que a igreja tinha sido de Rui Rodrigues «Espinho» e de seus descendentes «Roy Roderici de Spino et suo genere», e que o seu bisavô doou-a ao mosteiro de Vila Cova da Lixa.

Refira-se que os fidalgos cavaleiros Espinhas ou Espinheis «milites Spinelisf) eram descendentes de D. Egas Mendes por alcunha «Espinha» e de sua mulher D. Emisu Trastamires, com grandes haveres em Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, assim como seu filho D. Sarracino Viegas «Espinha» padroeiro do mosteiro de Alpendorada. De referir ainda que D. Egas Mendes «Espinha» era filho de D. Mem «de Gundar», hoje Gondar, freguesia de Amarante, assim como também eram Fernão Mendes «de Gundar» e D- Adosinda Mendes que casou com D. Gosendo Alvares, um prócere de grandes possessões nas terras de Baião e Penaguião, e ao qual o ainda infante D. Afonso Henriques, em Setembro de 1131, deu carta de couto a Tabuado, hoje no Marco de Canaveses.

Em 19 de Junho de 1264, no reinado de D. Afonso III, e já doada há muito a igreja de Tresouras ao mosteiro de Vila Cova da Lixa, foi feita composição sobre ela, em documento escrito na igreja de Castelões, entre o abade ou reitor da igreja de Vila Cova da Lixa, da diocese bracarense, padre Martim Martins e o Bispo do Porto, D. Vicente, porque este exigia o direito de apresentar em S. Miguel de Tresouras um clérigo com a parte ou censo devido de procuração: «.. .inter venerabilempatrem domnum Vincentem portugalensem episcopum nomine eiusdem ecclesiae ex una parte. et Mar- tinum martininj rectorem seu Ahbaten ecclesiae de Villa Cova Bracharensis diocesis nomine eiusdem ecclesiae ex altera, super eo quod predictus episcopus ad ecclesiam d anti Nlichaehs de Trasqysportucalensis dioecesispetebat sibj clericumpresentari et partem procurationis sibi dariprout suppeterent ecclesiae facultates...».

Qualquer abade, que em qualquer tempo fosse na igreja de Tresouras, colocaria nesta, à sua vontade, um capelão amovível, sob condição de se apresentar na Sé portucalense ao bispo ou seu vigário, para jurar aos Santos Evangelhos inteira obediência à dita Sé, conforme faziam todos os clérigos da diocese do Porto: «.. .quod predictus Abbas seu quilibet alius qui pro tempore fuerit in ecclesia santi Salvatoris supradicta Santi Micbaelis de Trasqys auctoritate episcopiportugalensis qui super hoc comisit dicto Abbati et successoribus suis in perpetuum vices suas qui capellanus postquam per predictum rectorem seu Abbatem fuerit possitus in dieta ecclesia debet venire ad portugalensem episcopum vel eius vicarium et promittere super santis evangelijs coram eo quod in omnibus et per omnia sit obediens ecclesiae portugalensi sicut sunt et esse debent alij eleriei suffraganej suae dioecesis...».

Pela procuração e dons da igreja, esta daria dois maravedis (antiga moeda da Península Ibérica) velhos ao bispo, pela festa da Páscoa, e o capelão pagaria anualmente o censo habitual e a terça parte das mortulhas. A esta composição, estiveram presentes fidalgos, como João Martins de Ataíde, e clérigos, como o abade do mosteiro Alpendorada e o prior de Mancelos.

Desta forma, compreende-se o facto de ainda no século XVI, o reitor de S. Salvador de Vila Cova da Lixa, apresentar o vigário colado de S. Miguel de Tresouras, com oitenta mil reis de rendimento. Nesta época, a igreja de Tresouras era taxada em trinta libras e apresentação do bispo do Porto, pagando pela visita deste ou seu mandatário 39 reis, e de censo 57 reis.

No ano de 1530, a freguesia tinha apenas um aglomerado de casas com 30 fogos na totalidade, ficando 15 no lugar «bairro» de Parada e outros 15 no lugar de Tresouras.

Quando do terramoto de 1755, que praticamente arrasou a baixa de Lisboa, a freguesia de Tresouras tremeu por duas vezes com forte inten-sidade, não se registando quaisquer danos.

No ano de 1758 a freguesia pertencia à província de Entre Douro e Minho, comarca de Sobre Tâmega, concelho de Baião e bispado do Porto, cujo padroado da igreja ainda era da Comenda de S. Salvador de Vila Cova da Lixa, a quem pertenciam os dízimos.

Nesse ano a freguesia tinha na totalidade 304 habitantes, dos quais 34 eram menores, sendo constituída por 102 fogos, dispersos pelos se-guintes lugares: Espinhal 9, Quebrada 7, Laranjeira 5, Tresouras 6, Fon¬te 11, Quinta do Pedregal 2, Lamas 6, Cimo de Vila 7, Quinta 8, Quinta da Igreja 1, Venda 14, Vale de Venda 2, Moinhos e Casa Nova 5, Calvos 12, Sobreira 6 e Fonte das Eiras 1.

O orago da freguesia era o apóstolo S. Tiago, que o povo soleni¬zava anualmente com devoção no dia 25 de Julho, sendo padroeiro da mesma o arcanjo S. Miguel, cuja festa se realizava, também anualmente, no dia 29 de Setembro e por obrigação do rendeiro dos dízimos.

O pároco tinha o título de vigário colado «ad nuptum», apresentado pelo reitor da igreja de Vila Cova da Lixa, do arcebispado de Braga, ten-do de côngrua certa para si e satisfação de algumas obrigações da igreja, 32 mil reis em dinheiro e trinta alqueires de pão meado, ou então, quatro alqueires de trigo e trinta almudes de vinho à bica do lagar, pago pelo rendeiro da dizimaria, que com os emolumentos incertos do pé de altar, rendia tudo à volta de oitenta mil reis anuais, além da obrigação de celebrar pelo povo missa aos domingos e dias santos.

A igreja, no seu interior, tinha três altares, contendo o maior o sa-crário, as imagens do Menino Jesus, do padroeiro S. Miguel, S. António e S. Caetano, enquanto nos dois colaterais, um com duas imagens de Nossa Senhora do Rosário, uma das quais muito pequenina e a de Santa Luzia, o outro altar com a imagem de S. Sebastião.

Havia na altura duas confrarias, uma do Senhor e outra da Senhora, que eram sustentadas pelo povo, bem como a das almas com direcção e estatutos. Nesse mesmo ano existiam já na freguesia as capelas de S. Tiago, esta a pouca distância da igreja paroquial, e a de Nossa Senhora da Encarnação, no lugar de Calvos.  

Segundo refere no dia 25 de Abril de 1758, o então vigário, Luís Leite de Faria, a capela de S. Tiago era muito visitada por mulheres com filhos lactentes, implorando através do santo, tranquilidade, sossego e brandura de condição para os seus filhos.

Sobre este ritual, há quem afirme na freguesia, que o mesmo era efetuado na capela de Calvos, onde desde tempos mais recuados, também faziam clamores em forma de procissão as populações das freguesias de Gestaçô, Viariz, Valadares, S. Tomé de Covelas, Santa Marinha do Zêzere e Loivos da Ribeira, no dia 25 de Março e noutros dias do ano quando não podiam fazer naquela data.

 Ainda em meados do Séc. XVIII, junto da capela de Calvos fazia-se, uma feira franca anual no dia 25 de março, que durava até às dez ou doze horas do dia seguinte, quando terminava.

Embora com pouca dimensão, ainda hoje se realiza junto da capela de Calvos uma feira no dia 25 de Março, conhecida por feira de Calvos, feira de Março e feira das falachas ou dos queijos, alusão à tradicional presença dos afamados queijos da serra da Estrela, cujo evento acontece pelo menos, há duzentos e cinquenta anos.

No seu interior, a igreja paroquial de Tresouras tem um lindo retábulo de talha dourada e um belo teto barroco. Na parte exterior da capela-mor encontra-se um sarcófago antropomórfico sem tampa.

Tudo indica que a freguesia de Tresouras era um local de passagem dos peregrinos com destino a Santiago de Compostela, não só pela existência da capela de S. Tiago, mas também pelo denominado Caminho de S. Tiago Velho junto do lugar de Sobreira.

A freguesia produzia centeio, trigo, castanha e landre, colhendo com mais abundância o milhão e o vinho, tendo muitas árvores de vinho nas margens do rio Teixeira onde nas suas águas se pescavam trutas e muitos escalos. Existiam três pontes de madeira sobre o rio, no termo da fre¬guesia, denominadas: das Poldras, da Pedrinha e da Fraga, havendo um moinho com uma roda de trigo e seis de segunda.

Havia pouca criação de gado e os agricultores apenas o utilizavam para trabalhar nas culturas. Por outro lado, havia bastante caça, sobretudo perdizes, coelhos e lebres.

A população era servida pelo correio de Mesão Frio, que distava um quarto de légua, sendo recebido às segundas-feiras à noite e enviado às quintas-feiras de manhã.

No ano de 1855 o pároco tinha cem mil reis de côngrua, conforme consta do mapa geral estatístico das côngruas arbitradas aos párocos e coadjutores das freguesias.

A Igreja matriz, que foi comenda de Cristo dos marqueses de Niza, é um templo muito interessante e antigo, tem no seu interior um belo teto barroco com pinturas muito antigas, de vários santos, e no altar mor um retábulo em talha dourada, antiquíssimo e maravilhoso.

Segundo Pinho Leal, nesta freguesia comprou o barão do Calvário vários bens do último marquês de Niza. Em 1873, o barão requereu ao juiz de direito de Baião, que os louvados da Câmara lhe medissem e demarcassem os seus montados, que confinavam com os baldios. Quando apareceu a justiça, tocaram os sinos a rebate e a população juntou-se, originando que o juiz de direito, os oficiais de diligências e outros, tivessem que fugir para não serem mortos, pois entretanto, a população já tinha aberto sepulturas num monte. O tumulto teve tamanhas proporções que foi necessária a presença do Regimento de Infantaria 6, de Penafiel. Devido à intervenção do abade de Teixeira, no sentido de acalmar a população, deve-se o facto de não ter havido consequências mais graves, visto que há muitos séculos a população se tinha apossado dos referidos montados por total abandono dos marqueses.

Esta freguesia sempre pertenceu ao concelho de Baião, nunca sendo anexada a Mesão Frio, conforme as outras suas vizinhas, tendo existido, em tempos, uma mina de estanho, denominada Vale da Vinha.

A freguesia foi local de passagem dos peregrinos jacobinos que se dirigiam para Santiago de Compostela e a confirmar tal facto existe a pequena capela de S. Tiago e o denominado Caminho de Santiago Velho que passa junto ao lugar de Sobreira.

Nasceu no lugar de Parada, desta freguesia, o padre Frei Domingos da Cruz, religioso da ordem de S. Francisco que floresceu em virtudes e santidade, conforme consta na crónica da sua vida, mencionada no quin-to tomo da obra seráfica, estando o seu corpo sepultado no convento de S. Francisco, em Lisboa.

A sede da Junta de Freguesia foi inaugurada no dia 25 de novembro de 2001.

Nesta freguesia foi criada uma agremiação desportiva voltada para a prática do futebol denominada por Tresouras Futebol Clube.

A freguesia de Tresouras é composta pelos lugares de Arieiro, Bou-ça, Calvos, Carvalhal, Cãs, Cimo de Vila, Eiró, Espinhal, Fontaínhas, Fonte, Fraga, Igreja, Lamas, Lamelas, Lameira, Laranjeira, Navoedo, Parada, Pedregal, Pensais, Pertiga, Poça, Ponte Pedrinha, Prados, Quebra-da, Quinchoso, Quintã, Rossadas, S. Tiago, Sobreira, Vale de Figueira, Vale de Parada e Venda Nova


Texto de:

Dr. José Alberto Gançalves. (2009). BAIÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS (1ª ed.).  Baião:  Uniarte Gráfica


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